Friday, March 27, 2009

Coluna do Ethevaldo Siqueira sobre interfaces

Caros alunos, abaixo a coluna do jornalista Ethevaldo Siqueira sobre Interfaces Digitais, no Estadão. Acho que o assunto já está tomando conta da grande mídia, ou seja, do senso comum. Quando criei esse curso há três anos acreditava nisso.

Novas interfaces, intuitivas e humanizadas

29 de março de 2009

A tecnologia digital busca hoje todos os meios para humanizar as interfaces – isto é, nossa relação com as máquinas. Há muitos exemplos para ilustrar essa tendência. As modernas telas de toque (touchscreens) criam uma relação muito mais intuitiva e amigável entre usuários e seus celulares, como o iPhone e seus concorrentes. Ou entre usuários e os novos notebooks ou desktops recém-lançados pela HP. Algumas dessas telas reconhecem até gestos, traduzindo-os em comandos aos aparelhos – ampliando, reduzindo, deslocando, empilhando e editando gráficos, textos e imagens.

A Toshiba japonesa apresentou recentemente um protótipo de televisor e monitor que pode ser operado apenas com movimentos das mãos e dos braços do usuário, feitos à distância de até 4 metros, diante do aparelho e detectados por minúsculas câmeras de vídeo embutidas nesse equipamento. É um tipo de comando quase mágico que reconhece movimentos (Spatial Motion Interface). Em lugar de usar o tradicional controle remoto, o usuário apenas faz movimentos com a mão e com os braços, diante do televisor, para selecionar canais, acessar a internet, organizar arquivos e fotos ou editar apresentações audiovisuais.

O comando de voz é outra interface que já está suficientemente evoluída para substituir os teclados tradicionais de centenas de dispositivos e aparelhos elétricos e eletrônicos. Nos últimos anos, passamos a usar formas avançadas de identificação biométrica, pela voz, impressões digitais, íris ou fisionomia, em incontáveis situações, em especial nos projetos de casa digital.

QUE É INTERFACE?
Interface é o conjunto de meios (hardwares e softwares) que nos permitem estabelecer relação com as máquinas. Vivemos uma época de humanização das interfaces. Graças à adoção de novos materiais e tecnologias, torna-se cada dia mais intuitivo e amigável nosso contato diário com computadores, celulares, iPods, televisores, câmeras digitais, automóveis, consoles de videogames, sistemas de áudio e vídeo ou softwares aplicativos.

Como usuário, tenho muitas queixas em relação às interfaces pouco amigáveis que encontramos em dezenas de aparelhos eletrônicos ou dispositivos do mundo digital. Reconheço, no entanto, o avanço extraordinário já obtido e incorporado pela maioria dos equipamentos eletrônicos nos últimos anos.

Nos computadores pessoais, a interface gráfica de usuário (Graphic User’s Interface ou GUI) é a mais largamente conhecida e a que tornou realmente fácil e amigável o uso de todos os aplicativos e programas dessas máquinas. A GUI teve papel relevante na popularização da maioria dos softwares de PCs ao longo dos anos 1980 e 1990. Quando usamos essa interface de ícones, clicando-os com um mouse nos computadores pessoais, nem sempre nos lembramos de que ela foi adotada nos anos 1980, primeiramente pelos computadores Lisa e Macintosh da Apple e depois pelos PCs, com sistemas operacionais Windows, da Microsoft.

Mas é preciso lembrar que não foi a Apple que criou nem o mouse nem a interface gráfica de usuário dos computadores Lisa e Macintosh. Seus criadores foram Alan Kay e Douglas Engelbart, pesquisadores do laboratório de pesquisas da Xerox, o Palo Alto Research Center (Parc).

HUMANIZAÇÃO
No processo de simplificação e humanização das interfaces, nada parece mais lógico e eficaz do que o comando verbal, com a sintetização da voz (voice synthesizing) combinada com o reconhecimento da fala (speech recognition), para que se possa estabelecer o diálogo homem-máquina. Na prática, no entanto, a maioria das pessoas resiste a esse diálogo. Ouvi de um jovem, uma frase que resume a questão com precisão: “Me sinto um débil mental, conversando com as máquinas”.

Há pelo menos 20 anos, a indústria tenta introduzir, sem grande sucesso, as interfaces de voz humana ou, no jargão, as linguagens de alto nível mais próximas da linguagem humana. Nos primeiros anos, a razão principal desse insucesso talvez fosse a baixa qualidade dos softwares de voz sintética e de reconhecimento da fala. No entanto, mesmo com a evolução extraordinária dessa tecnologia, a maioria das pessoas não se entusiasma por esse tipo de interface, pelo menos se houver alternativas convencionais, como o velho teclado. A experiência dos celulares com comando de voz é uma prova disso.

BIOMETRIA
O uso de características do próprio corpo humano – impressões digitais, a palma da mão, a íris, a fisionomia (rosto) ou a voz –, embora desperte curiosidade como forma high-tech de interface, encontra também resistências por parte de muitos usuários. Uma voz rouca por resfriado acaba, às vezes, impedindo a abertura de uma porta ou o reconhecimento de uma pessoa. Pequenas alterações da fisionomia, resultantes do envelhecimento do usuário, por exemplo, podem inviabilizar seu reconhecimento pela máquina ou sistema de segurança.

Pelo que vemos, nem todo esforço de humanização e de simplificação, é aceito pelo consumidor. O leitor conhece dezenas de pessoas que preferem o câmbio manual dos automóveis e não se entusiasmam pelo câmbio automático.

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